.Colaborações e corpos em diálogo 2018

Essas imagens nascem do encontro — de vínculos que atravessam amizade, amor, cumplicidade e confronto. Surgem quando o corpo deixa de posar e começa a existir diante da câmera: gesto, respiração, confiança.
Com Mayra, a imagem se faz abrigo; com Julia, torna-se confronto e excesso; com Antonella, aproxima-se do delírio. Com os exes, é reaparição e reescrita. Em todos, o corpo é campo de relação — e é dele que a imagem se forma.
O que une essas experiências é uma prática contínua da performance.
 Não se trata de representar, mas de agir. A imagem nasce do gesto e carrega seu rastro. Cada fotografia é fragmento de uma ação maior — um corpo que pensa, sente e se escreve enquanto acontece.
Essa é a linguagem que atravessa o trabalho: uma performance estendida no tempo, em que o corpo é também palavra, pintura e imagem. O que fica não é o registro, mas o acontecimento que persiste.

Foto digital feita por Mayra. 2023
1600 × 1200 pixels— impressão recomendada ~20 × 27 cm
Foto digital feita por Mayra. 2023
1600 × 1200 pixels— impressão recomendada ~20 × 27 cm

Impressões instantâneas (1 Polaroids originais e 3 Polaroid mini)
 1 × 8,8 × 10,7 cm + 3 × 5,4 × 8,6 cm
 2019

Impressões instantâneas (2 Polaroids originais )
 2 × 8,8 × 10,7 cm 
 2019- feitas por e com Mayra Cano.Impressões instantâneas (2 Polaroids originais e 3 Polaroid mini)
 2 × 8,8 × 10,7 cm + 3× 5,4 × 8,6 cm
 2025. Fotos feitas por exes.
Vênus da Caçamba. Foto digital feita por Julia. 2019
2x 3024 × 4032 px— impressão recomendada ~51 × 68 cm


Quero te ver sangrar 2024
Na performance, escrevo sobre a tela uma carta — um texto cruel, enviado por um ex — e, com tintas vermelhas, começo a pintar até que as palavras desapareçam sob a cor. O vermelho não é apenas pigmento: é sangue simbólico, memória inscrita, dor que se transforma em gesto.
O trabalho acontece entre a escrita e a pintura. Uso o corpo inteiro — o braço, o peso, o movimento bruto de carimbar e esfregar — até que o texto se desfaça em manchas. A tinta escorre, mistura-se com ressentimento e tempo. O processo é repetitivo, quase hipnótico, e a saturação do vermelho vai cobrindo tudo, até o silêncio.
A pintura vira um ritual de limpeza: há banho, respingos, rastros de tinta que escorrem pelo chão do ateliê até o banheiro. O tempo também transformou o fazer — o que antes era dor agora é vontade de resignificar, não só para mim, mas de modo coletivo.
O que nasceu como violência retorna como prova e trabalho. A intimidade torna-se pública; a vulnerabilidade, resistência. O corpo expõe a ferida e a converte em ritual, recusando o silenciamento e abrindo um espaço de resistência poética e política.

Ressignificação   2025
Na pintura, retorno ao corpo como campo de disputa simbólica. Referencio Artemisia Gentileschi, que transformou a violência sofrida em ato de justiça pictórica. Assim como ela decapta o agressor em companhia de sua serva, traduzo a experiência pessoal em cena coletiva, onde a vítima se torna agente.
Ao refazer essas imagens, reinscrevo minha própria experiência de violência. O gesto de decapitação não é vingança literal, mas metáfora da sobrevivência: do corpo que, ao ser representado, resiste. A cada pincelada, a violência se converte em possibilidade de vida.


Da fotografia à pintura   2025
As colaborações com amigas não se encerram na fotografia. A imagem, antes registro de uma performance ou gesto compartilhado, retorna ao meu ateliê e se transforma em pintura.
Ao transpor esses corpos — o meu, o delas, o nosso — para a tela, reinscrevo a experiência em outra materialidade. O óleo permite um tempo diferente: mais denso, mais físico, onde a cor não é apenas superfície, mas carne e memória.
Assim, o processo se multiplica: do corpo ao gesto performático, da fotografia à pintura. Cada camada reinscreve a anterior, criando um circuito de ressignificação contínua. O que começou como instante íntimo se torna permanência simbólica.

Apropriação digital2025
Nestas próximas imagens, trabalho a partir da apropriação: recorto fotografias, insiro meu corpo em contextos museológicos e pinto digitalmente sobre elas. O gesto é de ocupação — uma entrada forçada e consciente nos espaços onde, historicamente, as mulheres foram reduzidas a objeto de contemplação, nunca sujeito da obra.
Ao me colocar diante de pinturas religiosas ou clássicas, não busco harmonia, mas atrito. O nu feminino, antes moldado por olhares externos, retorna como corpo ativo, que se impõe e se sobrepõe às camadas da tradição. A intervenção digital não oculta a artificialidade do gesto: ao contrário, a afirma como estratégia de reescrita simbólica.
Esse trabalho é, ao mesmo tempo, confronto e celebração: confronto com o cânone patriarcal e celebração da possibilidade de reinscrever minha própria imagem na história da arte.

Aparicoes,
Colagem e pintura digital, 2018
1034 × 1417 px

Reapropriação e pintura

A partir de uma fotografia digitalmente manipulada, retorno ao gesto da pintura. Repito, recorto e reinscrevo o ícone, transformando o que antes era apropriação digital em uma nova tela.
Essa operação tensiona : não se trata de reproduzir um modelo sagrado, mas de subvertê-lo. Ao inserir meu corpo diante da Virgem e depois reconstituir essa cena em óleo, crio um deslocamento entre devoção e profanação, culto e corpo.
A imagem final não é cópia nem paródia — é ressurgimento. Um ícone fragmentado que se abre a outros sentidos, onde a nudez, a cor e o gesto  inscrevem novas camadas de significação.


Instalação e repetição   2024-2025
Repito, vario, recomeço. As imagens retornam em diferentes escalas e paletas, cada versão carregando uma nova intensidade cromática e emocional. O gesto de pintar deixa de buscar um “resultado final” para se tornar insistência: uma prática quase maníaca de reinscrição.
Essa repetição não é redundância, mas insistência simbólica. Ao multiplicar o mesmo motivo — corpos, ícones, autorretratos — crio um campo de reverberação, onde a diferença está na variação da cor, da matéria, do tempo de execução.
A obra não está em cada quadro isolado, mas na instalação como um todo: na acumulação, no excesso, no processo que se revela visível. Pintar aqui é performar: o processo é o trabalho.

Paleta Zorn2025
Minha pesquisa atual parte da paleta reduzida de Anders Zorn (preto, branco, vermelho e ocre). Essa escolha nasce do desejo de trabalhar a partir da simplicidade e da economia cromática, criando unidade visual sem abrir mão da riqueza de matizes possíveis. Com apenas quatro pigmentos, consigo alcançar uma ampla gama de tons de pele, nuances terrosas e até verdes e azuis sutis derivados do preto.
O uso dessa paleta direciona a atenção para o gesto, a composição e o conteúdo simbólico das pinturas, retirando o excesso de distrações cromáticas. É um exercício de foco, que me permite intensificar a expressividade e destacar o aspecto ritual da pintura.
Ao mesmo tempo, a adoção da paleta de Zorn estabelece um diálogo com a tradição clássica. Ressignifico esse vocabulário histórico para discutir temas contemporâneos ligados à feminilidade, ao corpo e ao poder.
Paralelamente, coloco essa experiência em contraste com outras paletas e pigmentos (como PR101 ou amarelo cádmio), ampliando a investigação sobre como a cor constrói atmosfera e sentido.
A limitação cromática se transforma em potência criativa: na restrição encontro liberdade, repetição e transformação simbólica. A paleta de Zorn, assim, não é apenas uma técnica, mas um campo de pensamento pictórico — uma poética do limite.

Aulas de pintura 2024-2025 — do desenho ao gesto.

As aulas são um espaço de experimentação e presença.
Entre o desenho e a cor, o olhar se afina, o gesto se torna corpo.
Cada estudante desenvolve seu próprio percurso, a partir do que já traz — seja o desejo de começar ou a vontade de aprofundar.

Trabalho fundamentos da pintura a óleo, estudos de valor e cor (Zorn, Anna, paletas personalizadas), composição e expressão.
Mais do que técnica, busco juntamente com o aluno compreender o que move a imagem — o gesto, a história, a sensibilidade.

Aulas online e presenciais (Lagoa Santa / BH).
Planos individuais e acompanhamento contínuo.